5.10.06

Um crime em Teerão

Um fanático religioso iraniano, chamado Mustafá, matou à facada o gerente de um cinema de Teerão, ferindo outro funcionário. A polícia diz que era um louco, mas o homem explicou que pretendia eliminar o vício e invocou a lei islâmica, que proíbe as imagens. O Luís Naves conta muitas vezes que presenciou um motim de fundamentalistas islâmicos, numa cidade do Paquistão, e os principais alvos foram os cinemas, onde é exibido um espectáculo que a generalidade das pessoas aprecia, mas que os religiosos abominam.
Às vezes, penso que as paredes deste cinema onde passo tanto tempo estão repletas de fantasmas, construídos a partir dos sonhos e dos pesadelos que aqui mostramos. Como se as emoções pudessem produzir uma substância quase imaterial (invisível a olho nu) que contamina toda a superfície. E à noite, na hora em que reina o silêncio, estes fantasmas tornam-se reais e assombram o lugar. Assim era aquele Mustafá que matou o meu colega em Teerão: aparição e simulacro, o lado concreto de um alvoroço da percepção. Irracional, sobretudo. Um excesso, como toda a ilusão deste lugar...


1 Comments:

At 11:01 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Mustafá é o fantasma dos seus próprios medos, que tenta afastar destruindo as imagens que o assustam.

 

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